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quarta-feira, 4 de abril de 2007

VIVER UM DIA SHAKESPIRIANO COM TODA A BRAVURA DO AMOR

Romeu e Julieta (Ato 3, Cena 5)

William Shakespeare

Julieta: Você já tem que ir? O dia ainda demora. Não foi a cotovia, foi o rouxinol que perfurou o seu ouvido temeroso.Ele costuma cantar na romãzeira:foi ele que cantou, foi sim, amor.

Romeu: É a cotovia que anuncia o dia, não é o rouxinol. Estrias invejosas bordejam as nuvens do nascente.Foram-se as tochas da noite; o dia alegrejá espanta a neblina do alto da colina. Posso ir e viver – ou ficar e morrer.

Julieta: Aquela luz ainda não é o aviso. Acho que é o sol que manda um meteoropra clarear seus passos para Mântua. ique um pouquinho mais: partir não é preciso.

Romeu: Que eu seja preso nos seus braços, eu imploro– e juro que é um prazer morrer assim. De fato, eu nunca vi a aurora cor de cinza, e acho que o dia se vestiu de lua. Cotovia nenhuma deu a notapara que o sol cantasse em nosso quarto:Julieta é quem decide se eu fico ou part.Eu só quero ficar, morte bem-vinda! Amor, podemos conversar, é noite ainda.

Julieta: Não é, não é! O dia raia! Saia daqui, agora, meu amor! Embora cantasse a cotovia é tão desafinada que confundiu compasso em doces barras, pra nunca separar nós dois: o sapo– dizem – já teve os olhos dela: por que não a voz? É erro, engano, bruxaria: finge que é noite, mas, de fato, é dia. A nossa despedida é um “despedia”!...

Romeu: Mais nus e claros vão ficar os nossos males!

Tradução: Décio Pignatari

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